6 de dezembro de 2025

Idiota

Sinta-se um idiota
Por ser você
Em um mundo em que se é
Tudo fora de si

O idiota acorda para dentro
E o mundo adormece para fora
E falam de todos 
E todo mundo é estranho

Todos são alguma caricatura
Parecem com algo
Então seja um idiota
No melhor sentido da palavra 

Volte-se para si
E quando sentir vergonha 
Dance

1 de dezembro de 2025

Só de olhar para você,
Minha face se ilumina e sorri.
Você me alegra o coração,
A um mar de distância.

25 de novembro de 2025

Ei amigo, você de cabeça para baixo, não fique assim. Você sabe né? As pessoas, essas mesmas que desenrolam um tapete vermelho na sua frente... Nem te perceberão à beira da calçada, você ficará invisível. Portanto, despreze, despreze qualquer honraria humana.

Sabe-se lá, não é verdade?

A verdade foi coroada de espinhos e cuspida. E queres ainda algo? Contente-se amigo meu, mesmo que, aparentemente, por um tempo, o contentamento estiver longe de você. Não ligue, deixe passar tudo, porque passará, e bem depressa.

Um louco curado

Eu disse que tinha algo errado em mim
Algo que não entendia
Um sentimento triste me invadia
E eu não podia saber o que acontecia

Nessa vida toda torta
De sons estranhos e gritos
Que invasivos atravessam meus tímpanos

Eu fui a um alienista
Ele não era um alienado descentrado no universo
Estava muito certo de seu centro
Equilibrado de analista

Os remédios, ele disse, tome-os
Converse com alguém, revele-me seus sentimentos
Lágrimas são salgadas eu sei
Seus segredos, guardados

Mas de alguma forma eles voaram
Como águias acima de nuvens
Avistando a lua lunática no céu estrelado

Queres ser curado tolo homem
Aceita essa tua condição humana
Tresloucada no mundo normal
Que mal de fato o assola?

Aceita ser esse louco interno
Aceita que são tão loucos como tu
Nesse asilo do mundo
Homens sãos e centrados
Colocam-te a camisa de força
Bruta no imundo mundo

Exilado no asilo da tua alma
Entende-te narcotizado
Nada podes fazer
Mas ria e deixe que riam de ti

Sejas um amor absurdo
Que ama o não amado
Que és tu mesmo.
Sê curado desse teu mal.

12 de novembro de 2025

Pássaro gracioso

Eu sei que percebi
Seu ar de graça, seu sorriso
E tentei me aproximar
Daquele pássaro belo que me apareceu
Mas tudo na natureza, parece cindido de nós
O estado de graça nos escapa
Como o pássaro foge rapidamente
Alvoroçado
Pela nossa desconjuntante presença

E se um dia essa graça se aproximar
O que poderíamos fazer
Para a conter?

10 de novembro de 2025

Maculado

A minha poesia hoje é torpe
E causa enjôo em quem a ouve
Me faço repugnante
Porque não consigo viver
Tão consoante ao que desejam
Na Terra suja em que piso

Atolei-me em um charco de lodo
E todo que quer me resgatar
Suja-se

Queria ser diferente 
Disso em que me encontro
Tão fétido, tão agonizante, 
Por homens que sujam toda beleza

Beleza de que me serviria 
De inspiração para a escrita
Mas meus olhos sujos e escurecidos
Se perdem mais na sujeira
Da torpeza humana 
Que parece sem fim.

Quem dera pudesse ver
Mas sou motivo de distância
Um enxotado leproso
De uma antiga vila

Sou amaldiçoado e praguejado
Mesmo pedindo socorro
A vila continua em seu marasmo
E eu só queria um acaso
E um ocaso 
Para esse sentimento de repugnância
Em mim.

9 de outubro de 2025

A verdadeira maestria

Ele está em cima do palanque
Como se todos o ouvissem
Imperativos esbraveja
Como se fosse o maestro de uma orquestra
E tivesse em si
A certeza dos instrumentos a lhe ouvir

Mas a natureza corre em outra orquestra
De sons que avessos ao tempo dos solfejos
Faz de si a própria maestra
De pássaros, rios e riachos
E ventos em topos de altas montanhas
E mares revoltos em tempestades

Aqui ele não passa de uma anedota
As altas ondas imponentes 
Silenciariam todos seus instrumentos 
Sua orquestra soaria como toda descompassada

Pois sua música é vaidade de sentido
Ao som das ondas do mar sob o vento litorâneo
Assim, que tens em ti tolo ser humano
Que acredita guiar todos 
Como o Flautista de Hamelin?

O vento ao quebrar um galho árvore
Desdenha de sua baqueta.

30 de agosto de 2025

Tolice

Eu me pergunto se escrevo poesia. Minha vida é cheia de recaídas em algo que não sei explicar. Eu estou sempre de recaída na existência. Tudo é um convite para o fracasso. Nunca consegue-se dar o melhor de si, porque o melhor é sempre insuficiente. Espera-se tudo do ser humano em um mundo que parece uma piada mal contada. 

Então eu escrevo aqui e chamo isso de poesia, minha vã tentativa de capturar algo da vida que não pode ser contado senão por metáfora. Uma parábola da existência. Mas isso é pretensioso. Ainda que a existência pudesse ser capturada em uma parábola, que desse conta dela, não seria capturada, pois ela escaparia, como tudo escapa de nós, no tempo. Os pintores talvez capturem algo e pintam, a fotografia, mas é momentâneo e parcial. A palavra carece de potência, e na escrita de alguém é apenas uma tentativa de exorcizar um demônio estranho, um tempo descaracterizado naquele momento, naquela mente.

Quem pode ver o que está oculto nas linhas da mente do artista? Quem pode acessar o que é desconhecido para si mesmo, que se desfigura e transfigura e se perde a todo momento no fluir do rio do tempo?