11 de agosto de 2025

Inquietude

Aflito sou
Angustio-me dia após dia
Mesmo o meu prazer
Me castiga

Queria eu que bons momentos
Não acabassem
Mas volto ao meu tédio
Onde minha ansiedade se banqueteia 

Queria eu que pouco me bastasse
Mas meu coração é um mar revolto
Que se inquieta e revolve-se
Em si mesmo 

Um tolo que anseia
De amor e paz viver
Mas temos nossa parte em lutas e aflições 
E de que poderíamos nos queixar.

O paroxismo da vida
Que agudiza-se mais e mais
E seu vértice aperta e ponteia
E na dor voltamos a nós mesmos

Então, anseio pela manhã
Numa noite escura e fria
E a Lua se envergonha
Pois não pertence, hoje,
A romances.

22 de julho de 2025

Possibilidade

 Olhar e procurar

Num olhar a vivacidade do amor

Não por atração apenas

Mas pela possibilidade


Possibilidade de sorrisos

E risadas, e conversas...

Sérias, talvez,

Mas procurando entender


O que o coração diz

De ti?

Poderia falar dos seus cabelos

E como vejo beleza em você


Mas como saber da alma

Sem conhece-la


E se não for o que poderia ser

Que desvaneça levemente

Como um chuva passageira de verão.

19 de julho de 2025

Lepra

 Minha solidão 

A que se deve, se busquei companhia

Se busquei amizade?

A que se deve o apartar-se se me aproximei?


Tal como leproso, estranho, esquisito

Me viram

Para que é para quem pertenço? 

Exiliram-me.


Estou triste e vejo o absurdo do mundo

A cada dia a violência vivida

E vista infligida no outro 

De quem se esperava acolhida


Assim, me afundo em mim

E me amorteço, e espero

Que minhas fracas preces sejam ouvidas

E essa chama em mim, quase apagada


Reviva, e não me sinta tão apagado

Tão distanciado

E quebrado

16 de abril de 2025

Não sei

Eu não sei o que escrevo
Não sei se sou poeta
Não sei quem sou
Se mudo hoje e amanhã

Mas amei
E não sei como amei
Não sei como aconteceu
E como morreu

Dentro de mim

Deus...
Não consigo pensa-lo
Sem meu coração sentí-lo
É preciso que os dois estejam de acordo

Mas minha mente quer meu coração 
Como um tolo apaixonado
E meu coração não entende
O que minha mente quer

Minha confusão
Habita meu coração
Que anseia tanto que quase se vira do avesso
Tentando achar
Sabe-se lá o quê.

Ele quer descansar no silêncio
De um planeta inóspito
Um bom tempo longe das turbulências da Terra
E de alguma forma
Entender
O que a mente se debate e não entende.

12 de abril de 2025

Desdenhado humano

Destreza e desempenho
Certeza da máquina
Tática e matemática
Resultado para descomplicar
O desenvolvimento preciso
No desempenho requerido

O desemprego e o desvalido
Desalojado do mundo
Desassossegado na vida
Desmoronado
E o desespero
Desfigurado

Na desumanidade

14 de março de 2025

Debaixo do sol

Aflitiva vida
Que sempre quer mais de nós
Mais do nosso suor
Nos expreme a cada dia

Essa vida dos homens
Que não nos deixa contemplar as estrelas
Coloca sobre os pescoços nus
Um jugo de ferro

Olhamos o chão sempre
Com o coração apertado 
Prestes a desmaiar
Combalido de sofrimento

Não consegue nem ver
Quem são os feitores que o castiga
E permanece na marcha rumo à morte
Sem saber o que é viver

O pouco de ar que se toma,
É para voltar a ser submergido
Em torrentes de águas sujas

Só quero amar
E me libertar desse jugo
Que me força à vida
Sobrevivida.

8 de março de 2025

Velado

Quantas vezes quis agradar,
Mas fui mal compreendido.
Quantas vezes dei o melhor de mim
E, mesmo assim, não foi suficiente.

Então, hoje me calo
E falo no meu coração,
E espero que Deus ouça, 
E o meu pensamento seja uma oração.

De querer algo melhor para todos,
Para mim e àqueles que me rodeiam,
Porque tal vida é dificílima 
E cheia de percalços e mal entendidos.

É como vestir-se apropriadamente
Para uma festa que não exigia
Vestir-se assim.

E cobres a ti mesmo de receios,
Porque o humano não entende,
O que é demasiadamente humano.

Faz teu silêncio, então,
Compreendido, senão,
Esquecido em ti.