30 de agosto de 2025

Tolice

Eu me pergunto se escrevo poesia. Minha vida é cheia de recaídas em algo que não sei explicar. Eu estou sempre de recaída na existência. Tudo é um convite para o fracasso. Nunca consegue-se dar o melhor de si, porque o melhor é sempre insuficiente. Espera-se tudo do ser humano em um mundo que parece uma piada mal contada. 

Então eu escrevo aqui e chamo isso de poesia, minha vã tentativa de capturar algo da vida que não pode ser contado senão por metáfora. Uma parábola da existência. Mas isso é pretensioso. Ainda que a existência pudesse ser capturada em uma parábola, que desse conta dela, não seria capturada, pois ela escaparia, como tudo escapa de nós, no tempo. Os pintores talvez capturem algo e pintam, a fotografia, mas é momentâneo e parcial. A palavra carece de potência, e na escrita de alguém é apenas uma tentativa de exorcizar um demônio estranho, um tempo descaracterizado naquele momento, naquela mente.

Quem pode ver o que está oculto nas linhas da mente do artista? Quem pode acessar o que é desconhecido para si mesmo, que se desfigura e transfigura e se perde a todo momento no fluir do rio do tempo?

21 de agosto de 2025

Apagando

Enfraquecido e angustiado
O que eu poderia dizer
Encolhido em mim
Tudo é mais poderoso que eu
O Universo
Os mares
Deus
Tentações 

Não tenho vontade de nada enfrentar
Estou na lona da vida
Atingido por um direto de direita

Minha embarcação está estraçalhada pela tempestade da vida
Não há farol, nem porto, nem estrelas...

Escreveria eu e isso me salvaria de mim?
O Messias, o Cristo de Deus, pode me salvar de mim?
Não me resta nenhuma força mais.
Sou um pavio que fumega.

Despido

Estou exposto
Que me importa estar nú
Que me importa estar envergonhado?
Que importa o vexame público
O escárnio
Se meus ombros estão caídos
E meu joelhos trôpegos?

Me aproximo de gente
Mas pareço alheio a tudo,
Toda Filosofia se desfaz
Diante de mim
Ela não aparece como a Boécio
Uma alma nobre.

Mas sou plebeu e ralé
Com pretensões a poeta, a procurar a Filosofia
Sou um tolo
E a sabedoria está a um abismo imenso de mim
Abismo que, cambaleante, pareço querer cair
E me esquecer de quem sou, fui, serei

Esquecer, nada faz esquecer
Tudo precisa existir, pensar, lembrar 
E adoecer
Abraçarei essa existência
Apesar de tudo

Nada sou,
Poeira pequena no tempo e na eternidade
E antes esse poema, essa pretensão 
Não existisse
A luz é boa
Mas meus olhos estão entenebrecidos para ela
Cego.
Miserável, cego e nú.

11 de agosto de 2025

Inquietude

Aflito sou
Angustio-me dia após dia
Mesmo o meu prazer
Me castiga

Queria eu que bons momentos
Não acabassem
Mas volto ao meu tédio
Onde minha ansiedade se banqueteia 

Queria eu que pouco me bastasse
Mas meu coração é um mar revolto
Que se inquieta e revolve-se
Em si mesmo 

Um tolo que anseia
De amor e paz viver
Mas temos nossa parte em lutas e aflições 
E de que poderíamos nos queixar.

O paroxismo da vida
Que agudiza-se mais e mais
E seu vértice aperta e ponteia
E na dor voltamos a nós mesmos

Então, anseio pela manhã
Numa noite escura e fria
E a Lua se envergonha
Pois não pertence, hoje,
A romances.