30 de agosto de 2025

Tolice

Eu me pergunto se escrevo poesia. Minha vida é cheia de recaídas em algo que não sei explicar. Eu estou sempre de recaída na existência. Tudo é um convite para o fracasso. Nunca consegue-se dar o melhor de si, porque o melhor é sempre insuficiente. Espera-se tudo do ser humano em um mundo que parece uma piada mal contada. 

Então eu escrevo aqui e chamo isso de poesia, minha vã tentativa de capturar algo da vida que não pode ser contado senão por metáfora. Uma parábola da existência. Mas isso é pretensioso. Ainda que a existência pudesse ser capturada em uma parábola, que desse conta dela, não seria capturada, pois ela escaparia, como tudo escapa de nós, no tempo. Os pintores talvez capturem algo e pintam, a fotografia, mas é momentâneo e parcial. A palavra carece de potência, e na escrita de alguém é apenas uma tentativa de exorcizar um demônio estranho, um tempo descaracterizado naquele momento, naquela mente.

Quem pode ver o que está oculto nas linhas da mente do artista? Quem pode acessar o que é desconhecido para si mesmo, que se desfigura e transfigura e se perde a todo momento no fluir do rio do tempo?

Nenhum comentário: