2 de maio de 2010

Quando não se pode sentir amor...


Eu me perderia facilmente? O que me guia é a luz do amor que quero viver e uma esperança que coloco em Jesus Cristo. Jesus Cristo é um parâmetro para saber quando sou egoísta ou quando estou amando, ou ainda, quando estou confuso.
Eu tenho refletido muito sobre as coisas que me rodeiam. Acho que nossos neurônios fazem inúmeras conexões por segundo em nossos cérebros. Seria demais eu pensar demais?
Eu não sei o que é o amor. Queria realmente saber. As pessoas interpretam de forma errada os sentimentos, ou até mesmo da forma certa; porque diante de 7 bilhões de pessoas, poderia haver imperativos? Para o amor há imperativos?

Quero colocar hoje neste blog um trecho sobre o personagem Tomas do romance A Insustentável leveza do ser.

Gostaria que se você tiver um tempinho, leia e reflita e depois deixe um comentário, por favor. Obrigado.
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"Sentiu então um amor inexplicável por essa rapariga que mal conhecia. Parecia‑lhe uma criança que alguém pusera numa cesta untada com pez e abandonara às águas de um rio para ele recolher na margem da sua cama.
Ficou uma semana em casa dele e, depois, uma vez curada, voltou para a cidade onde morava, a duzentos quilômetros de Praga. E é aqui que se situa o momento de que falei há pouco e onde vejo a chave da vida de Tomas: está de pé à janela a olhar fixamente para o prédio em frente do outro lado do pátio, e reflete: “Deve‑lhe propor que venha instalar‑se em Praga? É uma responsabilidade que o apavora. Se a convida agora a vir passar uns dias a sua casa, ela virá imediatamente oferecer‑lhe a vida inteira”.
Ou deve renunciar? Nesse caso, Tereza continuará a ser criada numa cervejaria daquele buraco de província e nunca mais a verá.
Quer que ela venha ter consigo ou não?
Olha para o pátio, tem os olhos fixos no prédio em frente e procura uma resposta.
Volta, ainda e sempre, à imagem daquela mulher deitada no seu divã; nunca conhecera ninguém assim. Não era nem uma amante nem uma esposa. Era uma criança que tirara de uma cesta untada com pez e que pousara na margem da sua cama. Ela adormecera. Ajoelhou‑se ao seu lado. O hálito febril acelerou‑se e ouviu um leve gemido. Encostou o rosto ao dela e soprou algumas palavras de repouso para dentro do seu sono. Um instante depois, pareceu‑lhe que a respiração de Tereza se acalmava e que o seu rosto se levantava maquinalmente em direção ao dele. Cheirava‑lhe nos lábios o cheiro um pouco acre da febre e aspirava‑o como se se quisesse impregnar da intimidade do seu corpo. Pôs‑se então a pensar que Tereza já lá morava em casa há muitos anos e que estava moribunda. De repente, tornou‑se‑lhe evidente que não sobreviveria à sua morte. Deitar‑se‑ia a seu lado para morrer também. Escondeu o rosto contra o dela na almofada e assim ficou por longo tempo.
Neste momento, está de pé à janela e invoca esse instante. O que seria que assim se dava a conhecer senão o amor?
Mas o amor era isso? Tinha‑se convencido de que queria morrer ao lado dela, e este sentimento era manifestamente excessivo: se era só a segunda vez que a via! Não seria antes a reação histérica de um homem que, ao aperceber‑se, no seu foro íntimo, da sua incapacidade para amar, começava a representar para si próprio a comédia do amor? Ao mesmo tempo, o seu subconsciente era de tal modo covarde que escolhia para essa comédia uma pobre criada de província que não tinha praticamente hipótese nenhuma de entrar na sua vida!
Olhava para as paredes sujas do pátio e percebia que não sabia se aquilo era histeria ou amor.
E, numa situação em que qualquer homem a sério saberia imediatamente como agir, censurava‑se intimamente por hesitar e por assim privar o momento mais belo da sua vida (ajoelhado à cabeceira da rapariga, convencido de que não sobreviveria à sua morte) de todo e qualquer significado.
Censurava‑se intimamente, mas acabou por pensar que, no fundo, não se saber o que se deve querer é normal:
“Nunca se pode saber o que se deve querer porque só se tem uma vida que não pode ser comparada com vidas anteriores nem retificada em vidas posteriores”.
É melhor ficar com Tereza ou ficar sozinho?
Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que vale a vida se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida? É o que faz com que a vida pareça sempre um esquisso. Mas nem mesmo ''esquisso'' é a palavra certa, porque um esquisso é sempre o esboço de alguma coisa, a preparação de um quadro, enquanto o esquisso que a nossa vida é, não é esquisso de nada, é um esboço sem quadro.
Tomas repete em silêncio o provérbio alemão, einmal isr keinmal, uma vez não conta, uma vez é nunca. Não poder viver senão uma vida é pura e simplesmente como não viver."