24 de novembro de 2022

Uma ode dos cínicos (ou da covardia)

Qual catarse se perdeu para nos tornarmos tão cínicos? Cauterizaram nossa consciência e não nos demos conta disso? Envolveram nossos corações em carapaças tão duras que nem sequer a flecha de um cupido pode transpassá-las? Tornamo-nos insensíveis às cores da vida, vemos tudo embotado? Para que se importar então? Os sonhos foram sequestrados por ambições vis. Todos riem em um baile de máscaras, mas apenas porque têm máscaras.
Catarse intensa que nos transfigure, caindo as carapaças de nossos cinismos.
Que transfigurem minhas palavras.
Uma dor que não seja anestesiada para que tudo seja transfigurado em uma beleza primaveril e perene, então frutos virão no verão, no outono saberemos apreciar o marrom das folhas secas no chão, e por fim, no inverno, saberemos nos aquecer, para então fazer valer tal transfiguração, nosso amor será então selado de bravura e ternura, para perdurar, sem fingimento, mas repleto e pleno de alegria e paz.

23 de novembro de 2022

Patético








Sonhos que me aproximavam da luz,

De sorrisos ternos de amor.

Pode alguém amar por pouco tempo?

Pode alguém se enganar facilmente?


Eu via você e nos meus sonhos você sorria.

Havia até um quadro em minha cabeça,

Que soubesse eu pintar

Já estaria numa tela.


São aqueles que relatam sonhos

Poetas, ridículos, patéticos?

O que é ser patético?

Ser facilmente afetado pelas paixões?


Não me refiro a todas paixões

Tolas e vãs,

Mas de dias bonitos de luar e de mar

E de areia e palmeira.


Abraçados, deixando o tempo passar 

Numa noite clara de lua cheia.

Nisso sim afetado

E esperando assim um dia tenro.


Mas como disse,

Pretensos poetas iludidos,

Que amam a ideia e que se enamoram por ela,

A ilusão do coração, olha só


Fazem com que pensem em poesia

E que de fato são poetas,

E que com simples versos de amor

Achar que podem conquistar o ser amado


12 de novembro de 2022

Nhé

 Essa vida é só um imenso "nhé". E a gente tem de se conformar com isso. A questão é como vamos nos conformar.

Não quero e acho que não consigo explicar por quê. 

Leia Eclesiastes.

10 de novembro de 2022

Credo quia absurdum

A Filosofia, ao contrário do que o senso comum afirma, pode ajudar a fé de alguém, desde que a fé já esteja solidificada, então o processo se torna teológico e teleológico.


Equivocadamente se afirma que a Filosofia pode levar ao ateísmo. Existiram filósofos cristãos, que se debruçaram sobre questões de fé: Santo Agostinho, São Tomás de Aquino (para citar os grandes nomes), depois Pascal, Kierkegaard, entre tantos outros.

Se sua fé é solidificada na esperança de Cristo, que é a pedra fundamental, a pedra de esquina, dificilmente o ateísmo filosófico poderá abalá-la, ler filósofos que divergem de uma cosmovisão cristã, só pode fortalecê-la mais e mais. Não por próprio mérito daquele que estuda, mas pelo poder de Deus que age pelo seu Espírito Santo, conhecendo a sua palavra, registrada na Escritura Sagrada.

Então seja o filósofo crente ou não, o que ele diz pode fazê-lo entender melhor as razões de sua fé, e saber separá-la, discerni-la, frente àquilo que pode confrontá-la.

Hoje pode ser que não tanto, mas qualquer disciplina de humanas que porventura alguém viesse a cursar, logo havia essa advertência sobre perder a fé.

"Credo quia absurdum," Tertuliano.

"Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação." 1 Coríntios 1:21


Lendo Unamuno, Do Sentimento Trágico da Vida.

6 de novembro de 2022

O monstro no pântano



Não quero viver assim
nessa escuridão que insiste a me perseguir
a me rodear
Adentrei a floresta do mundo
E espero sair em campo aberto
Mas vez ou outra
paro de enxergar a luz por entre as árvores
E um pântano lodoso
Quer me manter preso
Aqui nessa escuridão
Sou presa
Ninguém se importaria
Com uma alma solitária
Que procura incessantemente por socorro
Não ficar atolado nessa sujeira
Nesse charco de lodo
Sempre caminho
Com cuidado
Buscando saída 
Da densas trevas que procuram me apanhar
Essa escuridão 
é uma caçadora incansável
Mistura-se em sedução e ódio
E seu bafo em minha nuca
É quente, é um quente umedecido
Não é um deserto, em calor insuportável
É uma brandura que quer sufocar
E no fim me afogar
Esquecido em lodo
Caí, quantas vezes?
Me deixem fantasmas de cidades assoladas
E vazias
Quero luz, quero dia,
Apertam demais meu coração,
Sequioso da luz do dia
Da vida
Do ar fresco 
Dos campos abertos
Na minha face cansada
De tanto procurar

2 de novembro de 2022

Espaços em branco esperam...

 Por favor,

voltem a escrever nos muros

Doces poesias de esperanças

Hajam verdadeiros amantes

Da vida, de mulheres, amantes eternos

Ao ponto que tudo se revire e contorça

Numa transmutação

Ainda inaudita


Sim, escrevam nos muros solitários e sem pensamentos

Naqueles que são um espaço branco

Nessa vida

Esperando uma palavra,

Transmutada e bailante, feliz

Ou cabisbaixa e triste

Como um grito preso na garganta

atolado de angústias


Não sou poeta

Mas quero ver a poesia

Escrita nos espaços vazios

recados de amor terno

Pensamentos inconfessos

Aprisionados na mente de quem ainda sonha

Dor estranha

Minha alma se derrete todo dia

E meu coração também com ela,

Não sabemos para onde vamos

E o futuro faz questão de não esperançar

Ele permanece como um desafio

Uma montanha a escalar


Mas aqui cheguei sem forças e sem fôlego

Estou me sentindo mal

Tudo em mim se revira e se contorce

O estômago, o coração chora, 

E uma dor estranha

Que insiste em voltar em minhas entranhas


É o meu coração, é o meu coração

Vazio de Você, vazio da vida

Vazio dos sonhos

Vazio do amor

Este quarto obscuro 

Tem meus pensamentos impressos 

Em forte tinta preta para cegos.