29 de novembro de 2023

Só escrevendo...

É difícil conviver consigo mesmo. Lembranças ruins do passado, lutas internas que você precisa travar com você mesmo. O passado tem um jeito de deixar feridas que às vezes parecem que não estão cicatrizadas. E as piores feridas são feitas por aqueles que amamos, que não conseguem ou não querem ser apoio para nós em nossas emoções quebradas. Então nos resta Deus, mas às vezes ele parece distante de nossos problemas, em um mundo caótico, onde as pessoas só pensam em como lucrar sobre os outros, se fosse só isso, mas não, é sobre aquilo que prejudica o outro.

Vivemos em um mundo onde se fala em empatia, mas é por falta dela, e se deveria falar de compaixão. Pessoas que são más, pelo simples fato de quererem serem más. Será que isso vem de pessoas que deveriam nos amar? Se assim o é, pior para quem sofre assim. A pessoa é maltratada e ela não sabe o porquê. Nosso valor sempre está no que podemos dar. Se não podemos dar nada, então nos descartam, nos enxotam, nos tratam pior que um cão sarnento.

Pessoas são coisas, e as coisas com preço se fazem mais valorosas que o valor de uma pessoa.


14 de novembro de 2023

Escondi-me dentro, aqui, onde ninguém pode vir...

Não quero te ouvir agora
A não ser que fales à minha alma
Inquieta precisando de paz
Porque preciso aprender de um Deus
Que me criou
E que me fale
E aquiete minha alma
Preciso de um tesouro
Que eu descubra em mim
E que seja também do outro
Mas sem que o outro deixe de ser quem é
E nem eu me desfigure a personalidade

Vocês são tão donos do saber
Que desfigurar o outro naquilo que ele quer saber
Para ter intimidade com algo que possa ser dele
E não apenas, e sempre teu
Algo ou alguém que possa amar
No íntimo
Onde ninguém poderia chegar
Somente Deus,
Somente Cristo,
Que para sentir não só minha dor,
Mas também minha alegria,
Se fez carne, e assim entendeu,
Meu choro, minha agonia,
Meu exaltar e meu calar
Então deixai
Que seu cicío 
Acalme meu coração turbulento
De carne.

26 de outubro de 2023

Perceba

Se você me visse
Quando queria tanto sua atenção
Olhe para mim e não se distraia
Deixe-me mergulhar em teus olhos?
Brilhe neles a luz do amor
Como o sol no mar

Mergulhe tu nos meus olhos
Deixemos nos perder um no outro
Eternamente
E nos percamos em Deus
Em seu paraíso.

Deixa eu ser teu e que sejas minha
Perceba minha mão
Não a solte
Para que eu não te culpe
Pelo amor esfriar

Pois quero viver com você
Me perder em suas carícias
Sabendo que Deus nos abençoa
No seu Éden, por nós perdido.

1 de outubro de 2023

Avesso

Eu me sinto esquisito
Meu coração...
Não sei
Ele parece querer
E de tanto querer
Parece querer
A partir dele
Me virar do avesso.

29 de setembro de 2023

Alguém bem resolvido

Alguém que viu a vida
Como uma equação matemática
Enxergou todos os caminhos corretos
Para resolve-la

Passou incólumes aos reveses 
Nunca se sentiu inseguro
Determinado e orgulhoso de si
Olhou tudo de cima

Disse a si 
Sou assim resoluta
Tal qual uma estátua de pedra
Incapaz de ferir-se

Sou água límpida
Brilhando à luz do sol
Mas recuso-me a saciar a sede
Do sedento que passa por mim

O sedento falta-lhe
Mas eu não sou falta
Sou completude
Tal como o sol do meio-dia

Alguém assim, não tem cicatrizes
É necessariamente completo
Não se machuca, não perdoa nem é perdoado
Para que precisa então de algo bem resolvido?

26 de setembro de 2023

Gangorra da vida



Estamos sempre perdidos
E tal definitiva sentença
Nos apavora
Somos a própria desavença
O exterior, quer como seja,
Quer nossa derrota
E aposta todo dia
Em nossa queda

Então caímos
Mas lá no chão e na lona
Ainda assim,
Precisamos levantar,
E quando apenas tropeçamos
E estamos no meio?
Nem na queda nem de pé
Bambos

Contravenção, contradição
Contraditos caminhamos
E vemos o céu e a chuva sentimos
Mas porque não apenas ser o momento
Seria por que o momento é fugidio,
E assim traímos a corrente do tempo?

Que tempo? Átimo da nossa vida
Na eternidade?
Sejamos assim com o outro
Em risos benditos
Bem quistos

Sejamos com o outro
O rio das nossas lágrimas
Mais uma vez num dos opostos
Para mais tarde estar no outro
Gangorra da vida


24 de agosto de 2023

Peregrino cansado


Eu sei que sou fraco
Sou feito do pó da terra
Muitas vezes dei ouvidos
À concupiscência que habita em mim
Mas hoje não a quero
Sempre morto desejo
Surgido para morrer em si mesmo
Devaneio tolo e improdutivo
Deixai-me, pois não quero ouvir-te
Ó alvoroço inquietante do mundo
Alonga-te de mim
Passa-te de largo
Não lhe desejo
Quero que a mim a vida baste
Quero ser natural
Como o todo é de fato
Sereno
Serenar
Deixai-me compreender
Aqui na natureza
O meu lugar natural
Como quem nada quer
E nada busca
O sol basta
O vento, e o farfalhar das folhas 
A chuva serôdia
O som de um rio
Mundo inquietante
Causador de desejos
Deixai-me quieto
Ficai longe de mim
Pois exausto estou de ti
E da minha vida
Em um lugar estranho
Não vês que sou peregrino
Não vês que sou estrangeiro
Estou de passagem

28 de julho de 2023

Que palavra é essa?

 Nada me inspira a escrever hoje. Será?

Que palavra é essa, nada?

O ser é, o não ser não é, diz a Filosofia,
Mas o ser é sendo, portanto ainda não é,
É em ato e continua sendo em potência, que ainda não é o ato,
Que ato?
Podia ser o do ator e seu cenário,
Mas o cenário é antes do ator,
Que não é sem o cenário.
Sem plateia, enseja um futuro,
Brinca com a coisa séria,
Do cenário que vê, com ele,
Que dantes nada era, mesmo sem plateia,
E ver a si sendo, seriamente,
Porque alguém o verá, alguém o perceberá!
Quantos?
Não sabe ainda,
Porque a plateia ainda não é, 
Mas é em potência,
E seu ensaio é acreditar no que não é,
É a esperança do ato, se movendo,
Na continuidade da vida,
O ensaio já é a peça.

7 de fevereiro de 2023

A esperança tardia

São dias tristes os meus

Planos que esperava antes

Realizados no meu anseio de vida

Mas não recebi bálsamo 

Me fizeram feridas


Ninguém vai ligar de fato para isso

Quando se está perdido

Não sou um simulacro de fé

Apenas oro do profundo do abismo

Em que estou


Culpo-me por meus erros

Cometidos no desespero maligno

Do meu coração enganoso


Lançai-me a corda de esperança

Nesse profundo poço

Estou todo enlameado

Atolado em tristezas


Sou esperanças tardias

Que desfalecem meu coraão

Ouça-me,

Cansei-me disso


Busca de alívio

 É uma grande besteira

Não dizer como se sente

Porque na verdade

Quanto te perguntam

Está tudo bem


É uma grande besteira

Me preocupar com o que escrevo

Se nisto há um poeta

E se se trata de poesia


Só sei escrever o que sinto

E separo em versos

Outro que me julgue

Mas não vou deixar de escrever


Como alívio para o coração


Se está tudo bem?

Não está!

Meu coração quer se derreter

Ou me engolir inteiro

Na ânsia de não sei o quê.


Nesse mundo todos são

Cinicamente felizes

Rumam para a morte

Em planos falidos

Em amores fracassados


Minha amargura fala

Não dê muita atenção a ela

31 de janeiro de 2023

Poema da substância


 O mundo está repleto de vozes

úteis, inúteis... quem nos dirá?

Quais delas são dignas de interiorização?

São frutos bons ou frutos amargos e podres?


No vazio há muita audácia

Não é coragem, terna e sábia coragem

É ineficaz, tolo, estéril


As plantas são vaidosas

Mas pelo menos embelezam o mundo

E em breve secam.

Já outras são rudes espinheiros

E também secarão.