10 de dezembro de 2022

Somos livres do que queremos?

    Eu não entendo como somos livres. Nossos corpos, às vezes parecem separados de nós mesmos. Na música Creep do Radiohead, em um trecho é dito: "I want a perfect body, I want a perfect soul...", "Eu quero um corpo perfeito, eu quero uma alma perfeita...", ali parece que uma pessoa se sente menor que aquela que lhe despertou interesse, então ele elogia muito uma pessoa pela qual parece estar apaixonado, mas depreciando-se, não consegue se sentir bem com isso, e imaginar que a outra pessoa pode ter os mesmos sentimentos que ele têm, e se sentir mal também. Mas é como se ele imaginasse duas instâncias, que se não concordarem no real, não é possível uma vida como ela é. O que é ter uma alma e corpo perfeitos? O corpo pode ter alguns defeitos, a a alma também. Talvez a gente não queira ser visto como somos, seres que desejam, mas queremos ser vistos como anjos, mas anjos são incorpóreos, são espíritos, ou não?

    O ponto é que a nossa alma muitas vezes quer uma coisa que não pode ter, a perfeição, pelo menos não nessa vida. Ela quer não ser perturbada pelos afetos do corpo, que em algumas vezes a perturba sim, como na doença, ou como em paixões e volúpias que ela não quer mais sentir. Ela quer amor. Sexo sem amor é uma coisa mecânica, e a alma reconhece isso, ela quer encontrar outra alma, não outro corpo apenas.

    Ela quer olhar nas janelas da alma. Se vivemos para a libertinagem nunca nos satisfaremos, porque a alma precisa de outra alma, mas da alma e do corpo, porque ambos são só uma coisa. Se temos sexo sem amor, temos sexo sem alma, no entanto desejamos a alma como o corpo.

    Estou dizendo tudo isso porque a concupiscência do corpo incomoda, incomoda nossa alma e nosso espírito, e se somos escravizados pelos desejos carnais, como podemos dizer que somos livres. O sexo é uma coisa sublime e, enquanto não podemos tê-lo, convém sublimar os desejos, se assim for possível, como a psicologia acredita. 

    O sexo virou o grande fetiche, o fetiche dos fetiches, procuramos o corpo, mas não a alma, então parece que fazemos amor, pela primeira vez, no primeiro encontro, porque queremos que isso seja verdade, mas não é. A volúpia, ou a luxúria melhor dizendo, não tem o poder da sublimação, já o sexo com o conhecimento um pouco mais profundo de uma alma se torna sublime, se torna um corpo apenas, e isso é o casamento. Não se trata só de uma cerimônia social, mas de algo que é sublime, e para sempre. Mas numa sociedade, desculpe o termo, com ejaculação precoce, ou seja, que quer tudo rápido e esquentado no microondas, seria isso possível? Conhecer uma alma que possui um corpo, ou apenas queremos o corpo, a alma, a pessoa, pouco importa?

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