15 de julho de 2020

A máquina

Não é um dia para fingir que está tudo bem
Porque o ódio me circunda
Esse mundo tem que ser diferente
E tudo tem de ser sentido como oposto
De tudo que deveria ser
Até eu me sinto estranho a mim
Com esse ódio circundante e ácido
Corroendo minha carne
E minha alma

Sou nada aqui
E quem se importa
Sou alguém feito na máquina
Mas alguma coisa quer em mim transcender
Isso tudo que se repete
Na linha da produção da existência
Linha de produção da existência
Saindo igual
Linha de produção
Existência sem significado
Produtos para serem consumidos
Reciclados

É assim, o ódio do aço e da pedra
Do dia esquecido e marcado no ponto
Marcado no ponto
Repetido até a exaustão
Pra começar de novo
Na linha de produção
Repetindo
Como o sol que se repete em sua aurora
Nada de novo
Força para comer
Comer para força
Até exaurir
E morrer

Sem beijos
Sem paz
Que se pode ouvir senão um clamor?
Salve-nos dessa escravidão rigorosa
Seja contra a mão daquele que nos oprime,
Daquele que se alimenta
Do nosso suor
Para se banquetear
Enquanto lutamos pelo mínimo

É uma linha de produção que não pára
Feitos para a vaidade
De um tempo que sempre se perde
E se esvai no próprio tempo
Frutos da máquina
Nos tornamos um com ela
Hoje não é dia para beijos carinhosos de namorada
Hoje acordei sendo odiado.

Mas não quero odiar
Ajuda-me ó Deus,
A ser como o sândalo,
Que perfuma o machado que o fere.


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